A crescente complexidade e dinamismo do ambiente empresarial têm exigido uma reavaliação do papel dos Conselhos Consultivos nas empresas. Historicamente, os Conselhos se concentravam em supervisão e conformidade, mas a evolução das demandas corporativas agora requer que esses órgãos sejam mais ativos e integrados às estratégias empresariais. Este artigo explora como o Conselho Consultivo pode apoiar efetivamente a direção da empresa e gerar confiança mútua, baseando-se nas lições aprendidas de especialistas em governança corporativa.

A Função do Conselho Consultivo no Cenário Atual

Nos últimos anos, a responsabilidade e o envolvimento dos Conselhos Consultivos aumentaram consideravelmente. Já não se deve mais entender que fazer uma reunião mensal com os demais conselheiros e eventualmente atender a alguma demanda de sócios significa estar cumprindo o papel protocolar. A complexidade do ambiente de negócios, marcada por avanços tecnológicos, questões geopolíticas e necessidades de sustentabilidade, exige que os Conselhos se envolvam profundamente em múltiplas áreas da gestão. Conforme destacado no artigo “A crescente complexidade do trabalho do Conselho de Administração”, da McKinsey, do qual abstraímos alguns imputs para esta matéria, o papel dos Conselhos não só permaneceu intacto, mas expandiu-se, necessitando de uma maior participação nas estratégias de fusões e aquisições, gestão de riscos, talentos e desenvolvimento organizacional.

Estabelecendo uma Relação de Confiança

Para que um Conselho Consultivo seja eficaz, é crucial que exista uma relação de confiança entre seus membros e a alta direção da empresa/sócios. A confiança, conforme vários momentos enfatizamos nas aulas do PFCC (Programa de Formação de Conselheiros Consultivos da Board Academy), é consequência do entendimento e respeito, pelos Conselheiros Consultivos, das expectativas dos sócios, respeitando a cultura da empresa e agindo sempre com transparência, competência e flexibilidade. Esta confiança é construída, também, através de uma comunicação aberta e contínua, onde a alta gestão se sente à vontade para compartilhar informações críticas e buscar conselhos. Um exemplo disso é a prática crescente de interações individuais entre conselheiros e gestores, que permite uma troca de conhecimento mais direta e específica. Esta interação não apenas facilita a transferência de conhecimento, mas também fortalece os laços de confiança.

Papel do Conselho como Catalisador de Mudanças

Os Conselhos Consultivos podem desempenhar um papel essencial como catalisadores de mudanças dentro das empresas. Eles possuem a capacidade de impulsionar a adoção de novas tecnologias, práticas sustentáveis e estratégias inovadoras que podem não ser imediatamente aparentes para a gestão diária. Por exemplo, um Conselho que compreenda a importância da transição energética pode ajudar uma empresa de petróleo e gás a explorar novas oportunidades em hidrogênio verde e energia eólica offshore, conforme discutido no podcast Inside the Strategy Room.

Apoiando a Tomada de Decisões Estratégicas

A contribuição do Conselho Consultivo na tomada de decisões estratégicas é vital para a sustentabilidade a longo prazo da empresa. Conselhos bem informados e bem preparados podem oferecer insights valiosos e ajudar a evitar que a alta gestão se sobrecarregue com detalhes operacionais, permitindo que se concentrem em questões estratégicas. A preparação meticulosa dos materiais para as reuniões do Conselho e para subsidiar a direção/sócios da empresa, como memoriais/relatórios objetivos que delineiam prioridades, é uma prática recomendada para garantir que as discussões sejam focadas e produtivas.

Desenvolvimento de Talentos e Sucessão

Uma área em que os Conselhos podem ter um impacto significativo é no desenvolvimento de talentos e sucessão dentro da organização. Conselheiros experientes podem atuar como mentores para executivos emergentes, fornecendo orientação e apoio que são cruciais para o desenvolvimento de futuros líderes. Além disso, o envolvimento direto dos Conselhos em projetos estratégicos e em avaliações de desempenho pode ajudar a identificar e desenvolver talentos internos, assegurando que a empresa tenha uma base sólida de liderança para o futuro.

Conclusão

O papel do Conselho Consultivo é vital para o sucesso e a resiliência das empresas modernas. Ao estabelecer uma relação de confiança com a alta direção, atuar como catalisador de mudanças e apoiar na tomada de decisões estratégicas e no desenvolvimento de talentos, os Conselhos podem ajudar as empresas a navegar pelos desafios complexos e dinâmicos do ambiente de negócios atual. À medida que as responsabilidades dos Conselhos continuam a evoluir, é essencial que suas práticas e abordagens também se adaptem para maximizar seu valor e impacto na organização.

Alfredo Bottone é Matemático, Advogado, Professor em MBA de Governança Corporativa e do Curso de Formação de Conselheiros Consultivos, Consultor de RH Estratégico, Ética Empresarial, Relações Trabalhistas e em Desenvolvimento de Lideranças e de Profissionais de RH. É Ph.D., Philosophy in Business Administration (USA). É autor de livros, entre eles “Insights de um RH Estratégico” e “Os desafios legais e de gestão do teletrabalho, home office e regime híbrido”, além de vários artigos. É membro da Board Academy no Brasil e associado do SHRM (Society for Human Resources Management) nos Estados Unidos.