Temos acompanhado ao longo de décadas a evolução e importância do RH nas empresas. As tarefas operacionais que antes ocupavam a maior parte do tempo dos profissionais dessa área, com o avanço da tecnologia e a visão de muitos empresários do papel que esta área poderia oferecer, estas passaram gradativamente a ser automatizadas ou até mesmo terceirizadas para parceiros especializados.
A pandemia do COVID-19 trouxe um desafio como nunca antes visto, pois não era possível parar por completo o sistema de produção de bens para a população e da prestação de serviços, notadamente os públicos, como água, energia, telefonia, operação de rodovias e ferrovias, limpeza, etc. A indústria alimentícia jamais poderia sofrer um colapso, bem como tantas outras que tiveram de manter o funcionamento total ou parcial para evitar que a humanidade sofresse mais ainda as consequências dessa doença que assombrou o mundo.
Foi, então, o momento do RH assumir o protagonismo de grande parte das medidas que assegurassem o controle da pandemia no âmbito dos colaboradores, preservando a saúde física e mental dos mesmos, valorizando a vida e, por outro lado, criando protocolos altamente rígidos e seguros para que as principais frentes de trabalho não fossem interrompidas.
Além disso, o risco do desemprego em massa teve de ser administrado, com a flexibilização da forma de trabalho, emergindo, sobremaneira, a importância do home office e do teletrabalho. Lógico que, mais uma vez, a tecnologia, que foi a maior parceira nesse desafio, se fez presente, e os profissionais desse segmento foram capazes de oferecer o que de melhor havia e, rapidamente, buscaram novos e extraordinários avanços. O futuro foi antecipado.
O home office acabou sendo uma solução de grande relevância nessa pandemia, minimizando, sobremaneira, os efeitos negativos sobre a produção e a força de trabalho. A solução não foi simplista, ou seja, colocar boa parte trabalhando em seus respectivos lares. O RH teve de verificar as condições da infraestrutura de cada um, com o apoio da área de TI, principalmente, e de outros pares. Foi necessário, ainda, ajudar os gestores a lidarem com esse novo cenário, tentando manter o nível de motivação e produtividade dos empregados.
Os CEOs e demais dirigentes das empresas tiveram de contar com a experiência, criatividade, agilidade e assertividade das lideranças de RH para gerenciar esse “mundo novo”.
As regras convencionais não poderiam ser aplicadas num quadro grave como esse: empregados com suspeita de COVID tiveram de ser afastados, para evitar a contaminação de outros colegas no ambiente de trabalho, entrevistas para candidatos a vagas passaram a ser online, muitos treinamentos deixaram de ser presenciais (houve necessidade de adaptação para garantir a efetividade), antecipação de férias, redução de jornada e outras medidas tiveram de ser rapidamente implementadas.
A pandemia fez com que os RHs repensassem e mudassem a forma de comunicação com gestores e empregados e também entre ambos. A possiblidade do pânico, da depressão e outros efeitos nefastos teve de ser evitada com estratégias de comunicação e outras ações positivas.
As palavras obrigado e gratidão passaram a ser mais empregadas dentro da empresa. Afinal, os colaboradores se fizeram presentes e se mantiveram fieis aos novos sistemas de trabalho, garantindo a produtividade necessária para evitar danosas consequências. Os RHs tiveram de cuidar do fator estresse de toda essa conjuntura, administrar o convívio do empregado dentro de casa com os seus respectivos familiares, visando não os ignorar, mas usando estratégias para manter um ambiente saudável para os envolvidos. Alguns RHs tomaram a iniciativa de enviar dicas aos colaboradores de como ensinar os filhos em casa, sugestões para lidar com a solidão e até mesmo instruí-los de como agendar uma consulta médica virtual, algo que também ganhou muito espaço com a pandemia. Celebração de aniversário virtualmente, café da manhã, happy hour, etc. não faltaram para manter a empresa conectada com seus funcionários. Muitas outras ações inovadoras foram praticadas para os colaboradores e em parte também com as respectivas famílias.
Houve muita aprendizagem em todo esse processo. O RH jamais será o mesmo de antes. O saldo foi muito positivo e deverá ser mantido quando a pandemia passar. O normal será diferente, melhor, pois a atenção dada aos empregados no cenário de crise permanecerá. O empregado também aprendeu muito, inclusive a avaliar melhor a empresa em que trabalho. Se ele tiver opção de emprego, vai escolher o empregador lhe demonstre responsabilidade e reconhecimento do seu valor. Ações efetivas da empresa com relação a uma boa governança corporativa, onde um dos instrumentos relevantes é o Código de Ética, deve refletir ainda mais os reais valores da empresa em relação a empregados, clientes, meio ambiente e com relação à transparência nos seus atos. Portanto, o mundo não parou, ao contrário, evoluiu e o Ser Humano será melhor dignificado.
De fato, o grande valor dos profissionais da saúde deve continuar sendo destacado, pois além da competência, experiência e elevado grau de profissionalismo, eles arriscaram suas vidas para salvar milhões de outras, tal como os bombeiros fazem no cotidiano. Mas os profissionais de RH tiveram, por tudo o que acima expusemos, um destacadíssimo papel nesse cenário. Devem se sentir orgulhosos do cumprimento de sua missão e superação de grandes e imensuráveis desafios, além de consolidarem um grande legado para o presente e futuro de novas formas de trabalho e da gestão de pessoas.
Texto: Alfredo Bottone, especialista em políticas e estratégias de RH, advogado trabalhista empresarial, consultor também em áreas de governança corporativa, notadamente com a elaboração e implantação de Código de Ética, desenvolvimento de lideranças e coaching/mentoring de gestores e profissionais de RH.