O que é o Prêmio Javali? Entenda!

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O que é o Prêmio Javali? Entenda!

imagem do prêmio javali

(Fonte da imagem: Pinterest)

No mundo corporativo, circula uma lenda, tão difundida quanto temida, conhecida como o “Prêmio Javali“. Ao contrário do que o nome possa sugerir, não se trata de uma condecoração cobiçada, nem de um troféu para se orgulhar. 

Na verdade, é uma ironia, um trocadilho com as palavras “Já Vali”, que ressoa nos corredores e salas fechadas como um sussurro de despedida. É o reconhecimento final dado àqueles que estão de saída, não por seus feitos ou conquistas, mas pela percepção de que já não têm mais valor para a organização. 

A crônica do “Prêmio Javali” é a história de um ciclo vicioso, onde o valor humano é medido em números, metas e resultados de curto prazo. Uma realidade onde as pessoas são vistas como recursos descartáveis, facilmente substituíveis, e onde o respeito e a dignidade no desligamento se tornam exceção, não a regra. 

Nesse cenário, o adeus se dá não com gratidão ou reconhecimento, mas com indiferença. Um aperto de mão frio, um “boa sorte” vazio, e talvez, para os menos afortunados, nem isso. O “Prêmio Javali” é entregue, simbolicamente, nesse momento final, marcando não apenas o fim de um ciclo, mas a confirmação de que, no final das contas, você foi apenas mais um número. 

Mas aqui reside um paradoxo doloroso: como tratamos aqueles que saem é o espelho da cultura que fica. É a mensagem silenciosa enviada a cada membro que permanece, semeando dúvidas e temores sobre seu próprio valor e futuro na empresa. É o reflexo de uma cultura que, ao desvalorizar o indivíduo, compromete sua própria essência e sustentabilidade. 

As organizações que negligenciam essa verdade enfrentam uma realidade implacável: os talentos não suportarão serem tratados como números por muito tempo. Eles buscarão lugares onde sejam valorizados não apenas por suas contribuições tangíveis, mas também pelo seu potencial, sua humanidade e sua capacidade de crescer e transformar. Eles partirão antes mesmo de o “Prêmio Javali” ser considerado, deixando para trás não apenas um vazio de competências, mas um eco de sua insatisfação e desrespeito. 

Portanto, a crônica do “Prêmio Javali” não é apenas uma história de despedidas frias e indiferentes. É um alerta, um chamado à reflexão sobre a importância de cultivar uma cultura organizacional que valoriza, respeita e celebra cada indivíduo, não apenas pelo que trazem à mesa, mas pelo que representam como seres humanos. Uma cultura que entende que o verdadeiro valor de uma organização reside nas pessoas que a compõem e que a maneira como tratamos quem sai reflete diretamente naqueles que escolhem ficar. 

Em muitas empresas, há gestores que não têm coragem de assumir uma demissão, escondendo-se de quem trabalhou para ele por muito tempo, “delegando” ao RH essa função. Essa é uma prática que não aceitava, sempre procurei estar ao lado do gestor nesse momento, mas nunca sozinho. Quem decide comunica e explica os motivos da rescisão do contrato. 

Entre outras atitudes, o colaborar tem o direito de saber por que está sendo demitido, pois esse feedback poderá servir para corrigir falhas e investir no seu desenvolvimento. A empresa tem o direito de ter uma política justa de meritocracia, não tolerando a reincidência do descaso para com as obrigações funcionais, muito menos com comportamentos não éticos. 

Contudo, se o gestor não tem a responsabilidade de assumir perante o colaborador uma demissão, o risco da arbitrariedade é muito maior. A dignidade de pessoa humana, um dos princípios da nossa Constituição Federal, deve prevalecer em todas as circunstâncias e tratar bem o profissional que está sendo demitido se insere nesse contexto.  

Que o “Prêmio Javali” se torne, então, uma lenda do passado, uma recordação de tempos em que falhamos em reconhecer o verdadeiro valor das pessoas. E que, em seu lugar, floresça uma nova era de respeito, reconhecimento e humanidade nas relações corporativas, onde cada despedida seja marcada por gratidão e cada permanência, por valorização e respeito mútuo. 

Assim como a empresa deve ter um protocolo na admissão de um novo colaborador, da mesma forma é essencial que também o ciclo de trabalho do empregado seja finalizado com um tratamento humanizado e de gratidão pelo que ele fez pela empresa. 

Se um profissional bem preparado e sensível ao trato das questões humanas perceber que os desligamentos são feitos de forma arbitrária, fria e desumana, ele não esperará chegar a vez dele para receber o Prêmio Javali da empresa, ela dará antes a ela esse prêmio e a perda pode ser irreparável se muitos seguirem esse mesmo caminho.

Alfredo Bottone é Matemático, Advogado, Professor em MBA de Governança Corporativa e do Curso de Formação de Conselheiros Consultivos, Consultor de RH Estratégico, Ética Empresarial, Relações Trabalhistas e em Desenvolvimento de Lideranças e de Profissionais de RH. É Ph.D., Philosophy in Business Administration (USA). É autor de livros, entre eles “Insights de um RH Estratégico” e “Os desafios legais e de gestão do teletrabalho, home office e regime híbrido”, além de vários artigos. É membro da Board Academy no Brasil e associado do SHRM (Society for Human Resources Management) nos Estados Unidos.